Fiquei perplexa com a quantidade de
pessoas que revelaram para mim a sua crença de que ter outro filho funciona
como uma solução mágica para a dor. Como dezenas de pessoas me falaram a mesma
coisa, cheguei a me perguntar se isso não seria a coisa certa a se dizer e, na
verdade, eu é que era a errada de não gostar de ouvir. Mas, passados alguns
meses, comecei a ter contato com outras mães que passaram pela perda
gestacional ou neonatal e descobri que todas eram unânimes em dizer que também
não gostavam de tal atitude. Considero fundamental que a sociedade se
conscientize de que os filhos, para seus pais, possuem o mesmo valor,
independentemente do fato de ainda estarem dentro do ventre, de serem
recém-nascidos ou de terem conseguido viver dez, vinte ou oitenta anos.
Por que a idade seria um fator
determinante para que os pais confiram mais ou menos valor a um filho? Se
ninguém diria a uma mãe, durante o velório de seu filho de trinta anos: “Não fique
triste, você vai ter outro”, isso também não deveria ser dito a quem perdeu um
bebê. Antes de perder meu bebê, talvez eu não percebesse essa realidade, mas
hoje não tenho mais a menor dúvida de que não há diferença entre o amor por um filho
de poucos ou muitos anos de vida. Negar reconhecimento a essa dor para quem
passou menos tempo junto do filho é uma atitude que aumenta o sofrimento dos
pais. Portanto, hoje me sinto em condições de afirmar, sem medo, que, se alguém
tiver a intenção de consolar um pai ou uma mãe, nunca deverá falar que em breve
a pessoa terá outro filho. Não importa a idade com que o filho morreu.
“Lamento muito”, ou “pode contar
comigo para o que precisar”, são expressões maravilhosas. Sempre serão
bem-vindas. Mas dizer que a pessoa vai ter outro filho é a pior coisa que pode ser
feita, pois essa frase soa, para os pais, como um insulto à memória de quem
partiu, na medida em que faz parecer que é possível realizar uma substituição,
e isso definitivamente não acontece. Todos deveriam saber que quando uma mãe e
um pai choram pela partida do filho, eles não estão chorando porque ficaram sem
filho, mas porque ficaram sem aquele filho. Outro filho não vai resolver o seu
problema, porque não será o mesmo.
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Belo texto. Faz muito sentido para mim.... meu bebezinho viveu 8 semanas em meu ventre e é insubstituível.
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