quarta-feira, 6 de setembro de 2017

EXTRAORDINÁRIO LABOR MATERNO

Quando engravidei, fiquei emocionada com o fato de saber que tinha em minhas mãos a fantástica oportunidade de criar um ser humano. A sensação era tão sublime, que resolvi mergulhar nela, para entender do que se tratava aquela deliciosa plenitude. E, enquanto ia investigando cada detalhe do meu mundo interno, fui percebendo que o motivo pelo qual estava me sentindo tão feliz era porque, ao ser mãe, sentia-me um pouco Deus. Educar uma criança, depositando nela os conceitos e valores que considero mais adequados, para permitir que ela cresça como uma pessoa de bem, é, sem dúvida, uma preciosa chance de me tornar uma grande artista. Que emoção pode superar a que uma mãe (ou um pai) experimenta, quando vê o resultado de um trabalho realizado ao longo de muitos anos, convertido num filho do qual ela se honra de ter ajudado a formar?

No instante em que identifiquei que a alegria que um filho nos proporciona é proveniente da satisfação de darmos vida a alguém, que desfrutará de um futuro melhor, graças à nossa dedicação, dei-me conta de que o Igor não era o meu único filho. Ele se foi, mas não levou embora todas as possibilidades que tenho de continuar exercendo esse extraordinário labor materno. Antes de ele nascer, eu já era mãe e continuo sendo. Sempre serei minha própria mãe, na medida em que a Flavia de amanhã é filha da Flavia que sou hoje, do mesmo modo que a Flavia de hoje é filha da Flavia que fui ontem.

Durante a nossa existência, somos uma sucessão de seres, cada um criando o próximo, que herdará os frutos do que temos feito em seu favor. É tão bom amar uma pessoa, desejar a sua felicidade com tanta força, a ponto de fazermos os maiores sacrifícios por ela, procurando garantir que nossos cuidados lhe auxiliem a desenvolver muitas virtudes... Então, por que não fazer isso por si mesmo? Não é verdade que, para nossos filhos poderem aprender essas qualidades que queremos que adquiram, precisamos primeiro possuí-las, para poder ter condições de lhes ensinar? Então, a obra-prima que estamos querendo esculpir começa dentro de nós.

Antes de ficar grávida, eu já exercia a maternidade, através da minha própria criação. Isso é algo que levo muito a sério, pois me empenho para analisar os episódios que vivo, com o objetivo de extrair deles uma lição que me faça evoluir. Desde que comecei a realizar essa tarefa de forma consciente, alguns anos atrás, passei a colher incontáveis momentos de ventura. Após reunir uma colheita bastante farta, desejei engravidar, para oferecer ao Igor os conhecimentos com os quais ele poderia fazer a mesma coisa, se quisesse. Mas a morte interrompeu os planos, levando-o por outro caminho. Agora, só me resta não permitir que a ausência dele atrapalhe a continuidade da nossa evolução.

Permaneço pensando nos ensinamentos que quero lhe dar. Não deixo passar em branco um minuto sequer, que seja propício para compartilhar com ele as novas descobertas que tenho feito. Se por acaso o meu querido filho que partiu não estiver recebendo os recadinhos que lhe envio mentalmente, não tem problema. Meu esforço jamais será em vão, porque pelo menos a filha que ficou aqui está ganhando muito com isso.

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