sexta-feira, 22 de junho de 2018

DESPERDÍCIO

Se, quando o Igor faleceu, eu fiquei incomodada com o desperdício que estava ocorrendo por eu ter tanta vontade de me entregar a ele, enquanto ele não podia mais aproveitar a minha entrega, seria um contrassenso reclamar do desperdício que a morte causou e, por outro lado, eu mesma causar um desperdício maior, que representaria o fato de não aproveitar as inúmeras entregas que a vida me dá todos os dias. Portanto, a melhor forma de reagir ao seu falecimento era evitando que um número ainda maior de coisas ficasse desaproveitado.

Percebi que lamentável seria permitir que a morte do meu filho tirasse meu prazer de viver. Afinal, por que estava achando que era uma pena tão grande o fato de o Igor ter morrido? Por que queria tanto que ele vivesse? Jamais desejaria algo ruim para o meu filho. Então, se queria tanto lhe dar uma vida, isso só pode significar que a vida é uma coisa muito boa! E se a vida é maravilhosa, tenho que me sentir feliz, por ainda ter a minha.

Todos os dias a vida me brinda com o amor do meu marido, dos meus pais, irmãos, sobrinhas, primos, tios, sogros, cunhadas, e da família toda; com a amizade de muitos seres humanos sensacionais que convivem comigo; com a luz do sol e a fertilização da chuva; com a vastidão do mar e a imponência das montanhas; com a majestade das estrelas e o perfume das flores; com o refúgio das plantas e a dança dos animais; e, finalmente, com um Universo inteirinho, para eu poder colher milhares de aprendizados, através de sua contemplação.

O motivo para se alegrar é tão grande, que nenhum motivo de tristeza o supera, pois não existe razão que justifique desperdiçar tantos bens espalhados pela Criação. Somente a incapacidade de identificar esses bens poderia provocar sua perda. Mas, quando conseguimos reconhecer os valores transcendentes da existência, estamos protegidos contra as investidas do mal. Quanto maior for o número de bens que identifiquemos ao nosso redor, mais nossa vida se ampliará. E quanto mais amplo for o espaço que nossa vida ocupa, mais problemas poderão caber dentro dela, sem comprometer o seu equilíbrio e a sua sustentabilidade.
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domingo, 6 de maio de 2018

TE AMAREI ETERNAMENTE

Querido filho, carregar seu corpo dentro do meu foi uma experiência maravilhosa, que teve o efeito de criar o desejo de continuar usufruindo o prazer do nosso contato pelos anos que viriam pela frente.
Ao tomar a decisão de engravidar, meu objetivo era fazer o bem. Me disseram que ser mãe é abdicar dos programas favoritos para se dedicar a outro alguém, fatigar-se por ficar noites acordada. Enfim, sair de cena para que uma nova pessoa passe a ser a prioridade em sua vida. Porém, nada disso me abalava, pois meu propósito era desenvolver o altruísmo. Ser alertada de que o caminho que eu estava prestes a percorrer era extenuante não me assustava, já que ter um filho para mim não significava a busca de um prêmio, mas a sincera intenção de me entregar.
Depois de muito preparo interno, sentia-me pronta para os sacrifícios que estavam à minha espera no momento em que você nascesse, menos para o único que me foi exigido: o de não ter você comigo. Acumulei uma grande reserva de coragem para aguentar as rachaduras que se abririam nos meus seios, sem saber que esse sofrimento era irrelevante perto da impossibilidade de lhe dar um abraço. Reuni disposição para enfrentar o seu choro nas madrugadas, sem supor que esse incômodo era minúsculo comparado à impossibilidade de conhecer o seu sorriso.
Sua morte me trouxe a dor de não poder cultivar os valores que a maternidade me concederia. Senti como se tivesse sido tirada de mim a oportunidade de exercer os gestos nobres que só se concretizam quando colocamos os interesses de um semelhante acima dos nossos. Se você não estaria aqui para me solicitar tantas renúncias, como eu colocaria em prática a abnegação que um filho reclama? Mas despedir-me de você se mostrou o maior ato de desprendimento que eu poderia praticar, quando compreendi que não era do meu leite que você precisava.
Fui sua mãe por pouco tempo na Terra, mas te amarei eternamente em espírito.
Carinhosamente,
Flavia Camargo.
(Livro Quatro Letras - Flavia Camargo pagina 166)

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domingo, 22 de abril de 2018

RPL 6

Agradeço novamente a oportunidade oferecida pela querida Clarisse Queirós - Socióloga / Conselheira do Luto de participar, com a publicação de um texto, da sexta edição da RPL - Revista Portuguesa sobre o Luto - Clarisse Queirós, que tratou da Transformação dos Vínculos Afetivos após a experiência da perda de um filho. Um abraço a todas as pessoas envolvidas no projeto.

https://view.joomag.com/rpl-revista-portuguesa-sobre-o-luto-6/0183000001519064170

quinta-feira, 12 de abril de 2018

ESTRELA

O que mais quero é ver você ocupando
cada fração de segundo que me pertence.
Se há alguma distância nos separando,
é um obstáculo que meu coração vence.
Ele te traz para ficar comigo todo dia.
Dentro de mim não existe afastamento.
Você é como uma estrela que me guia.
E é pela sua luz que eu me oriento.
Irei te seguir o tempo inteiro que viver,
pois na sua companhia sinto muito amor.
Uma emoção que me dá força para fazer
o mundo brilhar num eterno esplendor.
Ah, que sorte alguém para me inspirar,
assim como ocorreu, quando te ganhei.
Felicidade que me leva a te contemplar.
Motivo pelo qual nunca te esquecerei.

Flavia Camargo

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sexta-feira, 2 de março de 2018

O LUGAR MAIS LINDO


Com você eu visitei o céu,
viajei pela imensidão do infinito.
E agora tento colocar no papel
algo que não pode ser descrito.
Como seria possível definir
o lugar mais lindo em que já fui?
Não há palavras para traduzir
toda a beleza que ele possui.
Tanta felicidade experimento,
quando estou andando por lá!
A cada hora eu me alimento
da paz que o nosso amor me dá.
Para encontrar o conforto perdido,
a sua lembrança é a minha senha.
Já não vejo mais qualquer sentido
numa vida que não te contenha.

Flavia Camargo

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domingo, 28 de janeiro de 2018

MEU AMANHECER

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Acordo para mais um dia que começou.
Contemplo a tela azul que o sol pintou.
Também sinto meu coração se acender,
pois sua presença é o meu amanhecer.
Desperto com você na minha lembrança,
onde a minha alma te busca e te alcança.
Assim como lá fora a luz fertiliza o mundo,
nosso amor torna o meu caminho fecundo.
Te levar comigo é sorte que não tem preço.
O sentimento mais bonito que eu conheço.
Passarei a eternidade tentando expressar
como foi maravilhoso a gente se encontrar.

Flavia Camargo

domingo, 7 de janeiro de 2018

3 ANINHOS

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3 aninhos!!!
Quantas coisas teríamos feito, hein...
Mas não fazer não me impediu de sentir : )
Convivendo com algumas crianças dessa idade, observo que elas já são capazes de ter conversas completas com outras pessoas. Elaboram os primeiros pensamentos próprios que vão além dos conteúdos que lhe foram transmitidos, começam a construir ideias novas, que resultam da conjugação entre os valores ensinados pelos pais e os traços da identidade que possuem, a qual se revela por meio de comentários inesperados, gestos espontâneos, causadores de surpresa, assombro, diversão e fascínio.
Impossível assistir a tais cenas sem me perguntar como você estaria me apresentando diferentes formas de ver o mundo, pelo seu ângulo particular, com indagações inusitadas e juízos mirabolantes. Não tenho suas palavras para produzirem esse efeito em mim, mas compartilho da mesma sensação inconfundível de quem foi levado a enxergar perspectivas incomuns, havendo apenas o detalhe de que meus motivadores são as circunstâncias que envolveram sua partida. E todos aqueles que se abrem a experiências assim, seja lá por que razão for, ganham um olhar mais amplo para abarcar compreensões imensas.
Quando nos despedimos, minha única meta era provê-lo do máximo de cuidados que eu conseguisse lhe dedicar. Sem a proximidade física, só me restaram os recursos emocionais. Foram muitos textos escritos, numerosas mensagens pronunciadas no coração, incontáveis recolhimentos, a fim de que não lhe faltassem provas de que você é importante.
Após longo empenho nesse sentido, a vida me deu a capacidade de ler a resposta. Tanto tempo concentrada nos meus deveres de mãe atrasou o instante de entender os sinais que você também me manda. Agora não estou alheia às suas manifestações de amor. Identifiquei a linguagem com a qual você me retribui. Cada bem que aparece no meu caminho em consequência de termos estado juntos é o seu modo de igualmente trabalhar para a minha felicidade.
Te amarei de janeiro a janeiro.
Até o mundo acabar.

Flavia Camargo