Dois Livros.
Duas Autoras. Duas Mães. Dois Filhos. Duas Despedidas. Dois Lutos. Duas formas
de Amar.
Um presente. Foi
a partir daí que surgiu a ideia de unir num único texto duas perspectivas de
duas Histórias de Amor entre Mães e Filhos, contadas por Flavia Camargo, em Quatro Letras, e por Aracelli Moreira, em Coração
de Leão.
“Recebi da Flavia (ainda em formato digital) seu
livro, que fiz questão de comprar, mas que tem previsão de entrega para daqui algumas
semanas. Ela disse que me mandou antes para que eu tivesse tempo de ler, com
calma, antes do meu segundo filho nascer, em alguns dias. Esse presente
inesperado me fez pensar o quanto temos em comum com a nossa experiência
vivida, mas ao mesmo tempo tão diferente. Foi então que propus expormos, através
de um bate-papo, entre mães que escreveram por e para seus filhos, alguns
pontos que consideramos importantes às nossas vidas e a vidas de tantas outras
mães que se despediram dos seus filhos. - Aracelli
Moreira”
“Quando enviei para a Aracelli o meu livro (digital)
antecipadamente, para que ela pudesse ler com calma, antes do nascimento do
Theo, fiquei impressionada por ela ter terminado sua leitura em um dia. Mas
comigo não foi diferente. Quando recebi seu livro, dois meses antes, também o
li de uma vez só, porque se tratava de um livro muito especial para mim. Conta
sobre uma experiência parecida com a minha e muito bem escrito, de forma que me
prendeu em cada palavra cheia de emoção e ternura. Aceitei de imediato seu
convite para elaborarmos juntas esse bate-papo e dividir com nossos leitores um
pouco mais dos nossos sentimentos e compreensões. - Flavia
Camargo”
- Por que
escrever? Lançar ou não o livro?
ARACELLI – Escrever foi a
maneira que encontrei de não pirar. De me manter sã. Quando percebi que todos
ao meu redor também tinham um luto a passar pela partida do Miguel, vi que a
forma mais saudável de reelaborar tudo o que meu filho e eu passamos juntos era
escrevendo para mim. Ao longo dos três meses, de altos e baixos, consegui dizer
tudo o que meu coração pediu.
E após concluir
minha narrativa, vi que tinha diante de mim um livro, o qual só decidi publicar
quando vi que ele poderia levar a mensagem de amor que meu leãozinho trouxe à
minha vida. Outras mães, pais, famílias, amigos teriam a chance de conhecer
mais uma forma de viver o momento da despedida de um filho.
FLAVIA – O propósito de
escrever foi a imensa vontade de manifestar meu sentimento pelo meu filho. Eu
tinha muito amor para lhe dar e ele não estava mais aqui para recebê-lo fisicamente.
Por mais que, em espírito, eu ainda possa amá-lo sem limites, parecia pouco
perto do tamanho do afeto que transbordava e ainda transborda do meu coração. Compartilhar
esse amor com outras pessoas me pareceu uma forma válida de me aliviar e ainda
fazer um bem aos leitores.
Custou-me
esforço revisitar as lembranças para colocá-las no papel. Para transmitir a
mensagem, tive que voltar no tempo e viver de novo cada minuto da nossa
história. Mas valeu a pena porque encontrei um sentido para as dores e as
alegrias que passamos juntos. Os momentos mais difíceis, vistos sob novo ângulo,
perderam a aparência sombria para assumir contornos mais leves. Mostrando como
eu fiz para transformar a tristeza em motivos de agradecimento, aproveitando a
oportunidade do desafio para cultivar virtudes importantes, espero levar a
outras famílias um estímulo para que procurem fazer o mesmo em suas vidas.
- A
transformação causada pela maternidade
FLAVIA – Quando ocorre uma
gravidez, em geral costuma-se pensar apenas no nascimento de uma criança.
Porém, a verdade é que ocorrem dois nascimentos, o do filho e o dos pais,
porque aquele homem e aquela mulher nascem dentro da mesma vida como um ser
diferente do que eles eram antes. Depois que esse sentimento de amor pelo Igor
me modificou, não importa mais que meu filho esteja perto ou longe de mim.
Nunca mais vou deixar de ser mãe dele. O que fundamenta a maternidade ou a
paternidade não é a demanda externa e sim o propósito interno (e genuíno) de se
entregar ao ser que você concebeu. E isso não desaparece só porque ele não está
mais fisicamente ao seu alcance. Por isso gosto de repetir que “mãe é um estado
irreversível”.
ARACELLI – Se me dissessem
que eu passaria por tudo o que passei, e passo, e que agiria da forma que agi,
diria que se trataria de outra pessoa. Assim como em toda mãe, existiu uma
Aracelli antes e existe outra depois do meu filho. E diante das dificuldades
que enfrentamos, isso se potencializou. E o Miguel me deu a dose certa de
força, garra, coragem para ser a mãe leoa do meu leãozinho. Não sei de onde
isso saiu, mas eu nunca pensei em desistir, em dizer que não queria essa
história para mim. “Ele É meu. E eu o quero com tudo, da forma que for, não me
importa o que tenhamos que passar.” E acredito que dessa maneira, eu me
“preparei” para o momento em que ele partiria, mesmo sem eu ter a menor
consciência disso na época.
- Como
encaramos a morte dos nossos filhos e a nossa Missão
ARACELLI – O que mais me
chamou atenção no livro da Flávia foi a semelhança, mesmo cheia de
particularidades, com que descrevemos a nossa visão de tudo que vivemos.
O que sinto é
que meu filho é um presente de Deus, que fui escolhida para ser a Mãe do
Miguel, porque de certa forma ele sabia que eu poderia fazer tudo o que fiz.
Não quero outra história. Como digo em meu livro: se me dissessem que eu teria
que ter um tempo tão breve com um filho, mas que ele me traria toda essa luz,
esse amor inexplicável, eu diria que Sim, novamente.
Acredito que ele
precisava desse amor. E teve.
FLAVIA – Poucos dias
depois do falecimento do Igor, percebi que toda mãe concebe seu filho para
morrer. Não havia mais motivo para o pânico por ter acontecido aquilo que é a
nossa única certeza. Na minha imaginação, em algumas décadas, chegaria a minha
hora de partir deste mundo e me despedir do meu filho. Ele ficaria aqui por
mais algumas décadas, até chegar a sua hora de partir também. Logo, eu sempre
soube que meu filho morreria. Se ele morresse depois de mim, eu não acharia
errado. Então, percebi que o verdadeiro problema não era a sua morte, mas o
momento dela.
Morrendo cedo,
não viveu junto comigo tudo o que havia planejado para nós dois. Porém,
compreendo que a missão de uma mãe é exatamente essa: gerar uma pessoa e dar-lhe
liberdade. A vida nunca nos prometeu que o filho seria conforme o nosso desejo.
Desde o início da gestação, ciente da minha missão como mãe, vinha preparando
meu temperamento para estar disposta a aceitar meu filho do jeito que ele fosse
(loiro ou moreno, alto ou baixo, tímido ou extrovertido, inclinado para uma
profissão ou outra, com gosto esportivo, político, religioso, musical,
literário, etc., semelhante ou oposto ao meu).
Quando tive que
me despedir dele prematuramente, cheguei à conclusão de que precisava ajustar
esta habilidade que já havia desenvolvido para aceitar que ele fosse diferente
das minhas preferências, passando a aceitar que ele não seria um filho
fisicamente presente, mas apenas um companheiro espiritual que carregarei no
coração até meus últimos dias. E isso não faz dele um filho menos amado do que
seria se eu o pudesse pegar no colo.
- Falar do Filho
é diferente de falar da Dor
FLAVIA – Quem me conhece
sabe que eu gosto de falar bastante do Igor. Não faço isso de forma exagerada.
E quando falo, não é com pêsames. Falo dele com gratidão. Afinal, assim como
acontece com todas as outras mães e pais, o motivo para eu falar do meu filho
não é por ele me fazer chorar ou sorrir, mas por eu amá-lo. Quando sua morte
era recente, era mais comum falar dele com lágrimas. Porém, já faz muitos meses
que só tenho falado dele sorrindo. Quando as lágrimas eram mais constantes,
percebia maior aceitação dos outros em me ouvir, como uma espécie de solidariedade.
As pessoas deviam pensar assim: "Puxa, ela está sofrendo, eu preciso
ajudar". E me davam atenção. Achei que, quando minhas lágrimas fossem
substituídas por sorrisos, a aceitação seria maior, pois agora eu não estaria
mais levando tristeza e sim alegria para os demais. Logo, seria uma razão para
eles preferirem. Entretanto, o resultado foi o contrário. Quando passei a falar
do Igor com alegria, percebi que algumas pessoas esperavam que eu parasse de
falar dele, como se pensassem assim: "se você já parou de sofrer, não
precisa mais de ajuda, então podemos mudar de assunto".
A morte deixou
de ser um tabu para mim e agora posso falar de quem morreu como falaria de
alguém que está vivo. Mas estou dentro de uma cultura que não trata a morte com
facilidade. Então, é natural que os demais não estejam dispostos a falar de
quem morreu como eu faço. Achei que, falando do meu filho sem transmitir dor
para a outra pessoa, não teria problema. Mas descobri que algumas vezes tem sim,
porque mesmo que eu não transmita dor, eu desperto a dor na pessoa, porque a
dor está dentro dela e tocar no assunto faz com que a dor dela venha à tona e
quase ninguém quer lidar com isso, prefere esconder para sempre.
Eu quero falar
do meu filho sem dor, porque todo mundo gosta de falar de quem ama. Mas quem
não aprendeu a lidar com a morte não quer conversar comigo sobre ele. Então, eu
só consigo encontrar espaço para conversar sobre o Igor com quem também já
conseguiu aceitar a morte com a mesma naturalidade que eu.
ARACELLI – Não falar do
Miguel nunca foi uma opção pra mim. Aprendi na terapia que a vida acaba, mas
que a existência não. E falar do meu filho é de certa forma fazê-lo existir. As
pessoas costumam querer “fugir” do assunto quando uma mãe fala do seu filho que
partiu, achando que estão fazendo um bem enorme. Mas na verdade o que fazem é
não legitimar a existência daquela pessoa tão importante a ela.
Diferentemente
quando, no início da perda, em que estamos num abismo sem fim, somos procuradas
por amigos e familiares que nos dizem coisas das mais diversas possíveis... de
“Daqui a pouco você tem outro”... a “Mas você nem viveu tanto tempo assim com
ele. Pior foi fulana que...”.
No início
fugimos também das perguntas dos desavisados: “O bebê nasceu! E aí, acordando
muito de madrugada?”. Ai ai...
Acho que
devíamos ganhar um kit de sobrevivência para conseguirmos fazer como o avestruz
e enfiarmos a cabeça debaixo da terra quando estamos em situações como essas.
- O tabu sobre a
perda Gestacional/Neonatal
ARACELLI – Eu não fazia
ideia do que a perda de um filho faz com a vida de uma pessoa. E acredito que
seja assim com toda sociedade. A não ser aqueles profissionais que trabalham
diante dessas circunstâncias (que pelo menos deveriam ter mais sensibilidade),
todo resto não faz ideia. Daí a importância desse assunto ser falado, discutido
da forma mais ampla possível a todos, porque lidamos com algo que não temos
controle, a morte.
E quando se
trata da morte de alguém que talvez ninguém viu, que conviveu por poucos meses
através apenas da barriga da mãe, o tabu se torna ainda mais complexo. Porque
para aqueles pais, principalmente para mãe que passa pelas transformações de
uma gestação, existe alguém, existe amor incondicional, existem planos, sonhos,
e quando tudo isso parte junto a esse filho, e ninguém mais reconhece sua
existência, a dor só aumenta, dilacera ainda mais.
Não existe uma
perda maior que a outra. Uma mãe que perde um filho aos 40 anos de idade, e
outra (como eu) que perde aos 40 dias de vida têm em comum a mesma dor, a mesma
saudade. A única coisa de diferente entre elas é a quantidade de memórias, de
recordações que será proporcional ao tempo que viveram juntos. Mas o amor... a
dor... são os mesmos!
FLAVIA
- Aprender a viver sem a presença física do meu filho foi um grande
desafio. E já teria sido um desafio tremendo se fosse o único! Mas,
infelizmente, devido ao tabu sobre a perda gestacional / neonatal, tive que
enfrentar esse desafio junto com outro extremamente difícil: a necessidade de
provar para as pessoas que meu filho é uma pessoa especial para mim, e que
merece reconhecimento e valorização como todos os outros filhos do mundo, sejam
jovens ou adultos. Ouvi dezenas de vezes comentários idênticos: "ah, não
se preocupe, que logo você vai ter outro". Aquilo era uma apunhalada no
meu coração que já estava extremamente ferido. Se não bastasse a terrível dor
da saudade, ainda tinha somada a ela a dor de ver que tantos amigos e
familiares estavam dizendo que meu filho não era importante, já que, segundo
seu ponto de vista, outro filho seria a solução para a dor de sua morte passar.
Não nego que
ficarei muito feliz se puder ter mais um filho depois dele, mas também afirmo
que isso não vai modificar em nada o que aconteceu e a falta que ele vai
continuar fazendo. Ter que defender a memória do meu filho amado, estando tão
machucada, era uma situação bastante cruel. E o pior de tudo é que quem falava
isso estava desejando produzir o efeito oposto no meu ânimo. Logo, eu nem
poderia transparecer meu incômodo com o que tinha ouvido, porque pareceria ingratidão
com quem estava querendo me consolar.
Demorei para me
manifestar sobre esse ponto, e até hoje ainda tenho muito cuidado, quando
decido explicar por que as pessoas devem parar de falar essas coisas. Se
aconselhar que a pessoa mude sua forma de consolo for um perigo para
comprometer a amizade, acabo ficando quieta. De qualquer forma, deixei bem
claro esse aspecto no livro, porque o considero de extrema relevância.
- A sincronia
das nossas escritas: Como no Dia Das Mães
ARACELLI – Chegou a um
momento no livro da Flavia que percebi que passamos uma mesma data em comum, o
Dia das Mães. Àquela altura Coração de Leão já estava escrito,
já ganhara nome, por isso não relatei nele este momento: O Dia Das Mães. Mas
nós duas vivemos esse dia sem nossos bebês.
Eu também temia
muito por essa data. Seria ela a primeira de muitas outras que eu teria que
passar. Sempre falava desse dia com a minha terapeuta. Até que ela, diante de
tudo o que já havíamos falado, sugeriu-me que eu tivesse o meu momento de Mãe
com o meu filho que se foi. E esse foi o melhor conselho que eu pude ter, pois,
assim como durante todo meu processo, eu me permiti fazer algo que
julguei melhor para nós dois. Cantei para ele, como sempre fazia ainda na
barriga e depois quando nasceu. Conversei, rezei, chorei. Fiz o que senti
vontade, sentada no chão, num lugar bonito, só Deus, Miguel e eu.
FLAVIA – Como o Igor
morreu quatro meses antes do dia das mães, a aproximação da data começou a me
preocupar. Não queria que ser mãe fosse motivo de dor para mim. Queria que a
maternidade continuasse sendo uma benção na minha vida, como sempre havia sido
enquanto eu estava grávida. Assim, algumas semanas antes, comecei a trabalhar
minha mente e minha sensibilidade para enxergar coisas boas e poder me
considerar feliz. O resultado foi uma das cartas que mais gostei de escrever
para o Igor, mostrando a ele que ser sua mãe nunca vai deixar de ser a melhor
coisa que aconteceu na minha vida.
Depois de
conhecer a Aracelli, fiquei encantada em descobrir que ela procurou fazer a mesma
coisa. Nós duas nos esforçamos de forma semelhante para poder viver aquele dia
com vontade de celebrar a oportunidade que Deus nos deu, mesmo que ela tenha
sido mais breve do que gostaríamos.
- O apoio do
Parceiro
ARACELLI – Se nós, mães,
já somos silenciadas pelas “vozes sociais”, que muitas vezes não reconhecem e
permitem nossa dor, vejo que para os pais isso também ocorre, mesmo que de outra
forma. A cobrança que se tem em cima desses homens – que precisam ser Homens
até mesmo quando perdem alguém que faz parte deles também – é enorme.
Eu sei o quanto
o meu marido abdicou da sua dor para cuidar da minha. Enquanto eu estava
cercada por familiares e amigos me dando carinho, conforto, era ele quem
cuidava dos documentos e das burocracias para que nosso filho tivesse nosso
último amparo como pais.
Quando escrevi
sobre a minha forma de ver o luto, escolhi preservar a maneira como ele passou
o seu. Mas, com certeza, a forma como nós passamos juntos por todo
processo fez e faz toda diferença em nossas vidas.
Uma vez, na
terapia, ouvi que nós dois somos a soma mais próxima do nosso filho. E que
todas as vezes que a saudade fosse absurda, nós dois juntos teríamos o Miguel
por completo. Eu nunca me esquecerei disso. E se fui forte, se não me deixei
abater por nada, se decidi seguir o caminho que escolhi depois da partida do
nosso filho, é porque ao meu lado tem o homem e o pai que o Miguel também
precisava ter.
FLAVIA – Pude perceber a
semelhança entre a minha história e a da Aracelli, quando soube do apoio que
ela sempre recebeu do marido. O Bernardo esteve ao meu lado todas as vezes que
precisei e foi um grande parceiro e colaborador do livro. Nunca reprimiu
qualquer tipo de manifestação emocional da minha parte.
Mesmo percebendo
que minhas necessidades para lidar com os sentimentos relativos à morte do
nosso filho eram diferentes da dele, soube respeitar cada fase pela qual eu
passei. E isso inspirou em mim o respeito por sua forma particular de
experimentar a perda. Assim como ele nunca reclamou que eu estivesse demorando
demais para me levantar, por chorar mais do que ele chorava (o que não
significa que minha dor fosse maior, pois chorar é apenas uma das inúmeras
formas que uma pessoa pode sentir saudade), eu também nunca reclamei que ele
chorasse pouco, pois entendia que lágrima não é prova de amor. Ele manifestou
seu afeto com carinho, zelo, dedicação e eu pude enxergar tais atitudes como sinais
muitos mais concretos do seu cuidado com a nossa família.
Essa compreensão
mútua que conseguimos estabelecer foi importante para o nosso equilíbrio. Mesmo
tendo sofrido uma enorme perda, também identifico que recebemos um ganho, ao
estreitarmos ainda mais nosso vínculo.
- A Beleza na
Dor
FLAVIA – Dizer que há
beleza na dor pode parecer estranho, a princípio. Mas, eu consigo vê-la. Nos
momentos mais duros, somos obrigados a exercer certas qualidades humanas que
não conhecíamos antes de sermos levados ao nosso limite. A dor ressalta nossa
força interna, nossos valores que muitas vezes estavam esquecidos ou eram até
mesmo ignorados. Lutar é belo, não porque seja agradável receber um golpe, mas
porque o ato de defender-se, reorganizar-se e seguir em frente revela a encantadora
natureza com a qual somos dotados, sendo capazes de resistir aos obstáculos e
usá-los para nos aperfeiçoarmos.
ARACELLI – Existem muitas
formas de passar pelo Luto. E a minha é mais uma. Não existe uma receita de
bolo. Durante todos os meses que vivemos juntos (antes e depois do nascimento),
meu filho me passou a sensação de que nada nesse mundo seria capaz de diminuir,
ultrapassar o Amor que sentimos. Todas as suas intercorrências ao longo desse
tempo, tudo o que vivemos naquela UTI, até mesmo nosso momento de despedida,
nada pôde abalar a Luz, a Fé, o Amor que ele me trouxe.
E se todos os
dias surgem pais e mães que precisam lidar com essa Dor, o que posso dizer é
que a sintam, como deve ser sentida, mas que nunca se esqueçam de que ela é
apenas parte de um Amor imenso, eterno, que só existe porque há um alguém
extremamente especial que existirá para sempre em suas vidas.
Flavia Camargo
Livro Quatro
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Aracelli Moreira