sábado, 25 de junho de 2016

JUST REAL MOMS

No começo do ano o site JUST REAL MOMS divulgou o livro Quatro Letras.

Você pode ler a matéria acessando o link:

http://www.justrealmoms.com.br/o-lindo-depoimento-de-uma-mae-que-perdeu-seu-filho-com-4-dias/

Agora o livro já foi publicado e encontra-se disponível em:

http://livraria.bookstart.com.br/quatroletras

O ebook também pode ser encontrado na Amazon, Saraiva, iTunes e Kobo.

sábado, 18 de junho de 2016

NOVO OLHAR

Durante os anos que passei refletindo sobre a maternidade, criei uma convicção de que nasci para ser mãe. Entendo que a vida é uma espécie de corrida de revezamento. Os que agora recebem o bastão amanhã terão que passá-lo e essa sucessão de passagens deve se perpetuar. Não tive condições de perceber que os meus anos de infância e juventude eram um tempo de preparação, para mais tarde amparar outros seres que viessem depois de mim. Se tivesse conseguido me dar conta disso mais cedo, teria aproveitado melhor as oportunidades para me capacitar.

Depois de me tornar adulta, essa visão do meu papel humanista se tornou óbvio. Com meu novo olhar, vejo que todos os dias que vivi foram para recolher os elementos que as experiências me entregaram, a fim de que servissem como as ferramentas de ensino que aplicarei sobre os próximos que irão me substituir. Compreendo que a docência não deveria ser uma tarefa exclusiva dos professores. Cada pessoa deveria se esmerar para se constituir em exemplo para os demais.

Eu não quero que a humanidade acabe. Penso que as coisas podem melhorar se nós trabalharmos no sentido do bem. Sim, é esta condição de humana que me faz errar muitas vezes, por causa da minha ignorância, das minhas falhas e defeitos, mas também é esta condição que me permite adquirir o conhecimento, que vai gradualmente preenchendo as lacunas internas e consertando as deformidades morais. E que felicidade é entalhar a própria imagem, polindo a escultura.

Identificar a posição que ocupo dentro de um panorama dessa magnitude leva-me a sentir uma profunda gratidão aos que me antecederam e permitiram que eu estivesse hoje me beneficiando dos valores que me cercam. Por isso, eu não poderia ter outra vontade que não fosse a de retribuir ao Universo aquilo que ele tem me dado em abundância, dispondo-me a ser uma colaboradora de sua grande obra. E a forma que tenho para prestar essa colaboração é permitindo que, através do meu empenho e dedicação, outros seres possam continuar seguindo suas marchas evolutivas, desfrutando, ao longo delas, a mesma felicidade que tenho desfrutado ao longo da minha.





domingo, 12 de junho de 2016

O AMOR VEIO PRIMEIRO

No livro Quatro Letras estão as cartas que escrevi para o Igor desde que descobri que estava gravida até janeiro de 2016 (quando o livro foi publicado). O blog do grupo Do Luto à Luta: Apoio à Perda Gestacional e Neonatal (https://dolutoalutaapoioaperdagestacional.wordpress.com/…/…/) compartilhou a primeira carta que escrevi para ele depois da conclusão do livro (com a linda ilustração da Kim Hodge-Böm).
“Querido filho, a sua passagem tão rápida pela Terra me trouxe muitas reflexões. A vontade de ter sua companhia e estar privada de desfrutá-la me fez questionar o que é a realidade. Embora não tenhamos protagonizado os episódios que planejei vivermos juntos, o carinho que experimentei durante a gravidez deu origem a uma história enorme, imaginada na minha mente, para nós dois. E ela com certeza teria se concretizado, se tivéssemos recebido a chance de transportá-la do plano mental para o plano material.
Quando seu corpo faleceu, antes que estes episódios planejados pudessem sobrevir, constatei que a força do afeto que estava inserido neles não se desfez. Assim, percebi que a nossa história não era uma mentira, só porque não teve tempo de acontecer. Descobri, também, que cada vez que nos abraçássemos ou brincássemos, tais fatos seriam apenas o efeito de uma causa precedente. E a verdade não se encontra nas consequências, mas na fonte geradora dos resultados que enxergamos com os olhos.
Logo, não eram os instantes felizes que ainda vinham pela frente os responsáveis por fazer nascer o nosso vínculo. Muito pelo contrário. O nosso vínculo, que já existe e já é real, é que daria nascimento aos instantes felizes que nos aguardavam no futuro, os quais só poderiam ocorrer porque o amor veio primeiro. Se a verdade se encontra na causa e não no efeito, e se os abraços e as brincadeiras entre duas pessoas são a consequência de um sentimento prévio que os produz, só posso concluir então que o motivo para as pessoas estarem unidas é o fato de se amarem, sem fazer diferença quantas vezes o propósito interno conseguiu se manifestar externamente.
Da mesma forma que um pianista recebe este título por possuir os conhecimentos que o habilitam a imprimir no piano as músicas que deseja tocar, uma mãe recebe este título por possuir os sentimentos que a habilitam a imprimir no filho os valores que deseja lhe entregar. A falta do piano não retira do pianista a sua função, pois ele tocará músicas em qualquer objeto que esteja ao seu alcance e tenha as características do instrumento que ele domina. Igualmente, a falta da pessoa que amamos não retira de nós a função de lhe entregar os valores que temos reservados para ela, pois quando o corpo se vai, ainda está ao nosso alcance o espírito do ser amado.
É por isso que deixar de ser sua mãe nunca foi uma alternativa para mim. Independente da distância física que nos separe, continuaremos unidos porque nossa verdadeira história é a que vivemos dentro da alma. A outra é só uma projeção.
Mil beijinhos da mamãe,
Flavia Camargo.
Rio de Janeiro, 24 de fevereiro de 2016”

terça-feira, 7 de junho de 2016

QUANDO O ESCOLHI

Querido filho, como se estivesse olhando para o passado, vi-me caminhando por um jardim, onde estavam distribuídas várias cestas no chão. Havia bebezinhos dentro. Uma voz começou a falar que um de meus óvulos estava prestes a ser fecundado e, portanto, em breve me tornaria mãe. Aqueles eram os candidatos que esperavam a oportunidade de nascer. Notei que etiquetas estavam presas na lateral das alças. Cada criança tinha uma frase correspondente, como se fosse a descrição de um produto. Interessada no conteúdo daqueles papéis pendurados, li alguns de forma aleatória. Um dizia que aquela filha me daria muitos netos. Outro dizia que aquele filho me encheria de orgulho. Teve papéis dizendo que determinado filho ou filha retribuiria meu afeto, dividiria comigo seus segredos, me cobriria de cuidados na velhice, etc. Mas quando o encontrei, não tive mais dúvidas de qual filho deveria escolher. Sua etiqueta dizia que você me faria desvendar o infinito.

— Pronto! Achei meu filho. É este que eu quero.

Encerrado o assunto, fui saindo, sem me preocupar com mais nada. Antes de me afastar por completo, porém, a voz me chamou:

— Não quer saber como ele vai fazer isso?

Não senti necessidade de receber explicação. Era exatamente você que eu desejava. Qualquer detalhe era irrelevante. Mas é lógico que quem almeja alcançar um bem tão grande precisa fazer um esforço da mesma proporção. Quando o escolhi, dei asas a uma aspiração audaciosa. Não foi fácil aceitar que não viveríamos juntos todos aqueles anos que pretendia passar ao seu lado. Mas, foi apenas através desse obstáculo que pude descobrir que o amor não precisa da matéria, para continuar pulsando eternamente. Hoje entendo que, se não tivesse me submetido a essa luta, nunca poderia ter comprovado que a força do amor é capaz de vencer todas as barreiras!

Se alguma vez você tiver se acanhado, por achar que sua partida frustraria meus planos, fique sabendo que nunca fez nada para me desapontar. Você me ensinou tantas coisas, que saber que ficaria pouco tempo aqui não teria mudado minha decisão. Você não é o filho que vai me convidar para a sua formatura, nem para o seu casamento, mas é o único filho que eu gostaria de ter!

Um forte abraço da sua mãe,
Flavia Camargo.

Rio de Janeiro, 17 de maio de 2015.