terça-feira, 7 de junho de 2016

QUANDO O ESCOLHI

Querido filho, como se estivesse olhando para o passado, vi-me caminhando por um jardim, onde estavam distribuídas várias cestas no chão. Havia bebezinhos dentro. Uma voz começou a falar que um de meus óvulos estava prestes a ser fecundado e, portanto, em breve me tornaria mãe. Aqueles eram os candidatos que esperavam a oportunidade de nascer. Notei que etiquetas estavam presas na lateral das alças. Cada criança tinha uma frase correspondente, como se fosse a descrição de um produto. Interessada no conteúdo daqueles papéis pendurados, li alguns de forma aleatória. Um dizia que aquela filha me daria muitos netos. Outro dizia que aquele filho me encheria de orgulho. Teve papéis dizendo que determinado filho ou filha retribuiria meu afeto, dividiria comigo seus segredos, me cobriria de cuidados na velhice, etc. Mas quando o encontrei, não tive mais dúvidas de qual filho deveria escolher. Sua etiqueta dizia que você me faria desvendar o infinito.

— Pronto! Achei meu filho. É este que eu quero.

Encerrado o assunto, fui saindo, sem me preocupar com mais nada. Antes de me afastar por completo, porém, a voz me chamou:

— Não quer saber como ele vai fazer isso?

Não senti necessidade de receber explicação. Era exatamente você que eu desejava. Qualquer detalhe era irrelevante. Mas é lógico que quem almeja alcançar um bem tão grande precisa fazer um esforço da mesma proporção. Quando o escolhi, dei asas a uma aspiração audaciosa. Não foi fácil aceitar que não viveríamos juntos todos aqueles anos que pretendia passar ao seu lado. Mas, foi apenas através desse obstáculo que pude descobrir que o amor não precisa da matéria, para continuar pulsando eternamente. Hoje entendo que, se não tivesse me submetido a essa luta, nunca poderia ter comprovado que a força do amor é capaz de vencer todas as barreiras!

Se alguma vez você tiver se acanhado, por achar que sua partida frustraria meus planos, fique sabendo que nunca fez nada para me desapontar. Você me ensinou tantas coisas, que saber que ficaria pouco tempo aqui não teria mudado minha decisão. Você não é o filho que vai me convidar para a sua formatura, nem para o seu casamento, mas é o único filho que eu gostaria de ter!

Um forte abraço da sua mãe,
Flavia Camargo.

Rio de Janeiro, 17 de maio de 2015.

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