sábado, 18 de fevereiro de 2017

O SEGUNDO SOL

Assim que comecei a assistir O Segundo Sol, meu coração bateu mais forte. A forma delicada e sensível como foram conduzidos os relatos das histórias reais sobre perda gestacional e neonatal torna impossível qualquer um se manter indiferente ao tema, depois de ouvir esses pais (bem como parentes, médicos, psicólogos e demais profissionais envolvidos) darem seus depoimentos, carregados de ternura pelos bebês que partiram tão cedo, deixando muita saudade.

Rafaella e Fabrício conseguiram alcançar seu objetivo, quando decidiram produzir o documentário para ajudar quem sente ou ainda vai sentir a mesma dor que eles sentiram com a morte de seu filho Miguel, que faleceu em novembro de 2014, horas antes do parto. A generosidade do casal não tem limites. Além de produzir o Segundo Sol e disponibilizá-lo gratuitamente no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=MfErAsoO4fE) para alcançar o maior número possível de pessoas, eles também estão sempre dispostos a dedicar seu tempo livre para cuidar de quem precisa de acolhimento.

O exemplo que Rafaella e Fabrício nos dão é belíssimo, ao ensinar que a dor pode ser transformada em empatia, união e aprendizado constante. O falecimento de um filho dentro da barriga, ou logo após sair dela, costuma produzir sempre o mesmo efeito: desamparo. Primeiro porque é o fim dos sonhos construídos ao longo da gravidez, e depois porque as vítimas deste episódio fazem uma terrível descoberta - a inabilidade social em lidar com esta situação. A grande maioria não está preparada para um evento desse tipo. Na era moderna atual, na qual o avanço da tecnologia nos faz acreditar que controlamos cada vez mais a natureza, a morte parece ter perdido seu lugar. Tornou-se um elemento estranho, que se quer esconder, acabando por criar a falsa sensação de que não existe. Aí, quando ela aparece, causa um impacto maior do que causaria, se sua possibilidade tivesse sido uma hipótese cogitada.

O documentário é imperdível, sendo difícil citar uma parte que tenha me emocionado mais, pois todas possuem elementos preciosos. Mas destaco a frase de Rafaella, quando diz que "devemos ter menos constrangimento com a dor". Ela resume o problema mais comum experimentado por todos os que perderam seus filhos prematuramente: a dificuldade de encontrar respaldo nos ambientes que frequentam para ter o seu tempo de sofrer. Recai sobre eles uma cobrança para esquecer o que aconteceu. O constrangimento com a dor alheia, ao qual Rafaella se refere no documentário, faz com que as pessoas próximas digam coisas que diminuem a importância do evento ocorrido, na ilusão de que essa desvalorização do luto o tornará mais leve. Entretanto, o que conseguem com isso é apenas tornar o caminho mais duro, devido à solidão gerada em quem percebe que não tem seus sentimentos aceitos e compreendidos.

Para que essas famílias não sofram mais em silêncio, O Segundo Sol (assim como outros movimentos similares, que estão surgindo ao redor do Brasil e de diversos outros países) veio para trazer uma voz que pretende mudar a mentalidade coletiva, através de uma proposta de reeducação e conscientização, a fim de que no futuro aqueles que venham a passar pela perda não precisem encontrar os mesmos obstáculos desnecessários que hoje atrapalham ainda mais o trabalho que já é tão complicado, de quem precisa aprender a se reconstruir depois de se despedir de um filho.

Só posso agradecer imensamente a este carinhoso casal, por nos presentear com seu admirável esforço em manter vivo o amor que Miguel despertou em suas almas e compartilhá-lo com o mundo.

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