Assim que comecei a assistir O Segundo Sol, meu coração bateu mais
forte. A forma delicada e sensível como foram conduzidos os relatos das
histórias reais sobre perda gestacional e neonatal torna impossível
qualquer um se manter indiferente ao tema, depois de ouvir esses pais
(bem como parentes, médicos, psicólogos e demais profissionais
envolvidos) darem seus depoimentos, carregados de ternura pelos bebês
que partiram tão cedo, deixando muita saudade.
Rafaella e
Fabrício conseguiram alcançar seu objetivo, quando decidiram produzir o
documentário para ajudar quem sente ou ainda vai sentir a mesma dor que
eles sentiram com a morte de seu filho Miguel, que faleceu em novembro
de 2014, horas antes do parto. A generosidade do casal não tem limites.
Além de produzir o Segundo Sol e disponibilizá-lo gratuitamente no
YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=MfErAsoO4fE)
para alcançar o maior número possível de pessoas, eles também estão
sempre dispostos a dedicar seu tempo livre para cuidar de quem precisa
de acolhimento.
O exemplo que Rafaella e Fabrício nos dão é
belíssimo, ao ensinar que a dor pode ser transformada em empatia, união e
aprendizado constante. O falecimento de um filho dentro da barriga, ou
logo após sair dela, costuma produzir sempre o mesmo efeito: desamparo.
Primeiro porque é o fim dos sonhos construídos ao longo da gravidez, e
depois porque as vítimas deste episódio fazem uma terrível descoberta - a
inabilidade social em lidar com esta situação. A grande maioria não
está preparada para um evento desse tipo. Na era moderna atual, na qual o
avanço da tecnologia nos faz acreditar que controlamos cada vez mais a
natureza, a morte parece ter perdido seu lugar. Tornou-se um elemento
estranho, que se quer esconder, acabando por criar a falsa sensação de
que não existe. Aí, quando ela aparece, causa um impacto maior do que
causaria, se sua possibilidade tivesse sido uma hipótese cogitada.
O documentário é imperdível, sendo difícil citar uma parte que tenha me
emocionado mais, pois todas possuem elementos preciosos. Mas destaco a
frase de Rafaella, quando diz que "devemos ter menos constrangimento com
a dor". Ela resume o problema mais comum experimentado por todos os que
perderam seus filhos prematuramente: a dificuldade de encontrar
respaldo nos ambientes que frequentam para ter o seu tempo de sofrer.
Recai sobre eles uma cobrança para esquecer o que aconteceu. O
constrangimento com a dor alheia, ao qual Rafaella se refere no
documentário, faz com que as pessoas próximas digam coisas que diminuem a
importância do evento ocorrido, na ilusão de que essa desvalorização do
luto o tornará mais leve. Entretanto, o que conseguem com isso é apenas
tornar o caminho mais duro, devido à solidão gerada em quem percebe que
não tem seus sentimentos aceitos e compreendidos.
Para que essas
famílias não sofram mais em silêncio, O Segundo Sol (assim como outros
movimentos similares, que estão surgindo ao redor do Brasil e de
diversos outros países) veio para trazer uma voz que pretende mudar a
mentalidade coletiva, através de uma proposta de reeducação e
conscientização, a fim de que no futuro aqueles que venham a passar pela
perda não precisem encontrar os mesmos obstáculos desnecessários que
hoje atrapalham ainda mais o trabalho que já é tão complicado, de quem
precisa aprender a se reconstruir depois de se despedir de um filho.
Só posso agradecer imensamente a este carinhoso casal, por nos
presentear com seu admirável esforço em manter vivo o amor que Miguel
despertou em suas almas e compartilhá-lo com o mundo.
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