terça-feira, 25 de outubro de 2016

NOVO TIPO DE AMOR

Como me vejo impedida de colocar meu bebê no colo, esfregar meu nariz na sua bochecha, embalar seu sono, sentir sua respiração fazendo cosquinha no meu pescoço, estou sendo obrigada a conhecer um novo tipo de amor. Mesmo tirando de mim algo que tanto queria, a natureza me estendeu com a outra mão um novo presente. Agora estou aprendendo uma forma de amor que nunca precisei exercitar antes.

Quando não se tem o ente querido por perto para falar com ele e lhe dar carinho, o que resta fazer? De que outra forma o amor pode se expressar? Como lhe dar vazão? É possível realizar o amor na ausência do objeto ao qual ele se destina? Certamente que sim. Mas dificilmente o realizamos com esse desapego, quando podemos praticá-lo da forma mais fácil. A morte do meu filho veio me trazer um aprendizado muito valioso: o aprendizado sobre a forma genuína como o amor sempre deveria ser.

Uma coisa que notei é que as circunstâncias fáceis da vida atrapalham o desenvolvimento pleno do amor, uma vez que propiciam a vinculação do sentimento a várias condições. Assim, sem percebermos, quando temos o direito de fazer exigências, acabamos cedendo ao impulso de condicionar nosso amor pelo outro ao fato de ele nos amar com a mesma intensidade, fazer o que mandamos, ter pensamentos iguais aos nossos etc. Mas, quando a pessoa que a gente ama morre, não podemos mais fazer nada disso e, então, conseguimos amá-la da forma mais pura que existe: incondicionalmente. Não temos mais opção de amar de outro jeito. Ou amamos assim, ou não amamos, porque a pessoa que morreu, simplesmente, não pode mais atender nossas expectativas. E se formos capazes de a continuar amando, depois disso, conhecemos o verdadeiro amor!

Mesmo sabendo que o Igor nunca vai me chamar de mamãe, nunca vai me dar um sorriso, em retorno ao sentimento que lhe dedico, nunca vai me dar um presente no dia do meu aniversário, nada disso tem importância e nenhum motivo no mundo é capaz de me fazer deixar de amá-lo. Ele não precisa fazer mais nada, além do fato de ter vivido 33 semanas dentro de mim, para ser o alvo do meu amor eterno. Com a sua morte, descobri que, para amar uma pessoa, não precisamos possuí-la, e todos os dias sou forçada a cultivar meu amor, sem depender da presença da pessoa a quem o sentimento se dirige. Eu nunca havia experimentado um amor assim. Por mais difícil que seja praticá-lo, sinto que nunca amei tanto! E nunca amei de forma tão sincera!


Então, constatei que, algumas vezes, quando a vida é dura conosco, podemos aproveitar a experiência para adquirir uma nova habilidade. Percebendo que eu não havia apenas perdido, já que a morte também me trouxe ganhos, consegui encontrar mais um motivo para voltar a me sentir feliz.

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