quarta-feira, 31 de agosto de 2016

MARIE CLAIRE

Essa reportagem da Marie Claire é resultado do esforço do Grupo Do Luto à Luta de mostrar que a perda gestacional e neonatal deve ser tratada com mais respeito. O trabalho é enorme! Precisamos mudar a mentalidade coletiva sobre esse tema. A sociedade, em geral, banaliza a dor que se sente pela morte de um bebê. Com base na falsa crença de que não seria possível existir um vínculo forte com aquela vida, já que ela ainda estava "só" no início, muitos médicos não tomam os cuidados que seriam necessários para amparar mães e pais que passam por essa experiência, submetendo-os a um tratamento desumano, que poderia ser evitado com a mudança do protocolo e a adoção de certas medidas.
Isso é só uma parte do problema. O desamparo começa já desde o hospital, mas depois se estende para os próximos ambientes que o casal vai frequentar quando recebe alta. Parentes lhes dirigem as piores palavras, supondo serem reconfortantes.
Dizer a uma mãe cheia de amor pelo seu bebê que foi melhor ele ter morrido logo nos primeiros dias do que depois de alguns anos faz tanto sentido quanto dizer a uma pessoa cheia de fome que foi melhor seu alimento ter caído no chão logo nas primeiras mordidas do que depois de já ter saboreado uma grande parte da refeição. Ninguém pensa que a fome de quem comeu pouco é menor que a fome de quem comeu muito. Entretanto, existe o lamentável engano de que a dor dos pais que tiveram negada a chance de conviver com o filho é menor que a dor dos pais que conseguiram desfrutar desse convívio por algum tempo.
A pressa em oferecer consolo cria frases que apunhalam uma ferida aberta, fazendo-a doer ainda mais. Diminuir a importância dos nossos filhos não ajuda. Pelo contrário! Piora a situação. O que traz verdadeiro conforto é sentir que amigos e familiares reconhecem que eles possuem o mesmo valor que os filhos das outras pessoas, independente da idade! Essa é a melhor forma de consolar: legitimar nossa maternidade e paternidade, compreendendo que o vínculo que temos com nossos filhos é tão profundo quanto o vínculo de qualquer pai ou mãe do mundo com os seus, seja lá quanto tenha durado essa relação.
E vamos continuar levantando a bandeira até chegar o dia em que a sociedade seja capaz de entender que todos os filhos são igualmente especiais e insubstituíveis. Tomara que os manifestos de hoje permitam que no futuro ninguém precise passar pela solidão que tantos experimentam agora, ao verem seu sentimento menosprezado justamente por quem queria lhes acolher, mas acaba causando efeito contrário, por não saberem como fazer isso.
http://revistamarieclaire.globo.com/Noticias/noticia/2016/08/do-luto-luta-maes-que-perderam-bebes-depois-do-parto-reivindicam-tratamento-digno-em-hospitais.html

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