quinta-feira, 7 de julho de 2016

SENTIDO DA VIDA

Parei de procurar a justiça no falecimento de um bebê muito desejado e amado, e decidi me conformar com o fato de que não há nada de absurdo em morrer. A natureza é assim mesmo: basta observá-la para entender que ela se perpetua através do constante transitar entre a vida e a morte. A partir do momento em que tudo o que nasceu, mais cedo ou mais tarde, terá que falecer, assim como os átomos que compunham aquele corpo que faleceu, futuramente serão reciclados e poderão vir a compor um novo corpo, que nascerá depois, a passagem de um estado para o outro é algo normal e pode atingir qualquer pessoa. Não obstante essa realidade dura e implacável, nós somos dotados dos recursos psicológicos necessários para aceitar as coisas como elas são, e nos adaptarmos às mudanças, toda vez que elas ocorrerem.

Considerando que a morte é a única certeza da vida, o Igor teria mesmo que morrer um dia. Só não esperava que fosse antes de mim, e nem antes de ele poder ter algumas experiências felizes. Foi uma pena ele ter ido embora, sem conhecer a delícia que é dar um mergulho na praia, assistir o pôr do sol, provar o sabor de uma framboesa, ler um poema, ouvir o canto de um passarinho e se apaixonar. Mas tendo ou não feito essas e outras coisas, todos nós um dia teremos que partir também. Então, preferi pensar que, independentemente da quantidade de dias que durou a sua existência material, ele completou sua missão, dentro do tempo que lhe esteve disponível.

Afinal, por que queria que meu filho vivesse todas aquelas experiências que sonhei para ele? Para que serve tudo isso que nós fazemos neste planeta, com o objetivo de alcançar tanto fascínio, alegria e prazer? Não são formas de buscar que nossa passagem por estas terras não seja em vão? Então, refletindo sobre isso, percebi que beijar, sorrir, dançar, e todos os outros verbos que praticamos não são fins, mas meios. Não fazemos essas coisas só por fazer, mas porque esperamos que elas sejam o modo pelo qual realizaremos nossas conquistas pessoais. Beijamos para estabelecer vínculos afetivos, sorrimos para inspirar simpatia e criar um ambiente de boa convivência, dançamos para expressar uma arte ou interagir com os semelhantes, e todo ato externo do nosso corpo tem como objetivo nos dirigir ao alcance de um valor interno, que está além desses meros movimentos físicos.

Assim, vejo que o modo como os seres humanos se comportam está revelando que o que nós queremos, em última instância, é transformar o mundo e sermos transformados por ele. O sentido da vida é provocar essas transformações. De quanto tempo precisamos para isso? Observando a beleza do amor que o Igor plantou dentro dos corações de seus pais, tenho certeza de que, em pouco mais de cinco mil horas, ele conseguiu cumprir sua finalidade!

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