sexta-feira, 1 de julho de 2016

AMOR NÃO SE ESCONDE

Quando engravidei, recomendaram-me esperar três meses para dar a notícia, porque nesse período é grande o risco de perder o bebê. Explicaram-me que, se eu não contasse a ninguém até esse momento, não teria que passar depois pelo constrangimento de comunicar a perda, caso ela ocorresse. Isso nunca me pareceu razoável. Mas, imaginava que talvez eu é que não conseguisse entender os motivos que justificavam tal conselho.

Quando o Igor morreu, pude confirmar que minha suspeita estava certa. Não havia razão para que eu tivesse ocultado do mundo o filho que concebi, amei e partiu. A morte dele não mudou absolutamente em nada o fato de que continuo carregando-o comigo para todo lugar que vou. Se estivesse vivo, carregaria nos braços. Como não posso fazer isso, carrego no coração. O jeito de carregar é irrelevante. O ato de carregar é inevitável.
Falar dele, pensar nele, sonhar com ele, escrever para ele, vibrar por ele, jamais deixará de integrar minha rotina. Então, de que teria adiantado esconder das pessoas algo tão importante, um pedaço de mim sem o qual não sou mais eu mesma? Conhecer a Flavia sem conhecer o Igor é não me conhecer de verdade, porque faltaria a parte principal! Afirmo com toda certeza que, se nossa separação física tivesse ocorrido antes da minha barriga crescer, nosso amor ainda seria o mesmo que é hoje, independente do tamanho que minha barriga estava no dia que ele se foi.
Para mim, não faz sentido nenhum que, se futuramente eu conceber outro filho que venha a partir também, eu seja obrigada a manter meu amor por ele em segredo, em anonimato, como se isso fosse um crime, só porque viveu menos tempo que o irmão. Não vejo diferença entre as duas maternidades. É doloroso ter que dizer para as pessoas que meu filho morreu? Sim. Seria melhor não precisar dizer isso, caso elas nem soubessem que ele existia? Não, porque para fazê-las permanecerem ignorando sua existência eu teria que passar o resto da vida sem mencioná-lo e isso eu não seria capaz de fazer. Passar os próximos anos fingindo que alguém que amo tanto não existiu seria uma mentira que não desejo sustentar. 

Se saber que meu filho morreu lhe incomoda, lamento muito. Gostaria que minha história não lhe causasse qualquer incômodo. Entretanto, não posso arrancar aquilo que me faz ser quem sou, só para minha identidade se tornar mais agradável aos outros. Quem quiser ser meu amigo vai fazer amizade com o Igor e com todas as pessoas que moram dentro de mim também! Veja que privilégio poder fazer tantos amigos de uma vez só! :)

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